domingo, 30 de agosto de 2009

Faces do amor

Te amo!
Simplesmente, te amo!
Desesperadamente, te amo!
Sem pudor, te amo!
Sem recato, te amo!
Sem vergonha, te amo!

Te amo nos instantes em que está presente
Te amo nas horas em que está longe
De perto, eu te amo!
E na distância, meu amor é ainda maior.

Te amo quando minhas mãos tocam teu corpo.
E quando tuas mãos tocam o meu, eu te amo.
Te amo quando acordo e te vejo ao meu lado.
E quando durmo sem o calor do teu corpo, eu também te amo.

Te amo, assim.
Louca, desvairada e inconsequente.
E te amo, assim.
Santa, recatada e consciente.

Rosinha Morais

30/08/2009

Compasso

Cada passo
É menor
Ou maior
Que um compasso.
Se por ti eu passo,
Aperto o passo
E logo em seguida
Me desfaço
Em te esperar
Para em teu passo
O meu passo
Se compassar.

Rosinha Morais

30/08/2009

sábado, 29 de agosto de 2009

Altos e baixos






Não busco senão a luz dos teus olhos
Para guiar-me na fria noite que acalanta meu peito
O calor dos teus braços e dos teus beijos
Para aquecer e dar vida aos meus apelos

O caminho é árduo e a estrada tortuosa
Com os altos e baixos de um humor inconstante
Que hora grita chamando para perto
Em outra quer vê-lo muito distante

Entre cacos de vasos atirados no ar
E de um coração despedaçado de tanto amor
Caem as lágrimas do arrependimento
Sobre um caderno manchado de dor

A alegria esvaindo-se pelas janelas da face
Levando consigo todo o seu triste lamento
Acordando-me do meu estúpido disfarce
Levando-me ao altar do esquecimento

O torpor novamente me envolve
Em canções de amor e declarada paixão
E a luz dos teus olhos me devolve
A firmeza desse amor no coração.

Rosinha Morais

29/08/09

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O bem e o Mal

Está lançada a sorte
Paz e guerra
Vida ou morte
Na batalha pela terra.

De um lado os defensores
Aliados do bem
Do outro, malfeitores,
Desse mundo e do além.

Definido os dois lados
A luta vai começar
Os dados foram lançados
E agora é esperar

Com magias e armas
Eles terão que lidar
Defendendo suas almas
Seus amigos e seu lar.

Aos guerreiros valentes
Só nos resta desejar
Sigam sempre em frente
Sem medo de errar

Se um dia o mal ganhou
E se gaba do que fez
Esse dia terminou
Para o bem, chegou a vez.

Rosinha Morais

28/08/2009

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Os sete garotos (do CQC)




Eles surgiram sorrateiramente
Conquistando sem escrúpulos
Um país bem sorridente
De políticos esdrúxulos

Foi usando o humor
Nas noites de segunda
Que descobrimos o horror
Daqueles que nos comandam

Hoje aguardamos ansiosos
Por um novo programa
Com seus quadros bem jocosos
E suas piadas bacanas

Onde tem sempre uma lição
De alegria e consciência
E hoje vejo com emoção
Algo feito com decência.

Rosinha Morais

27/08/09

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Desejo

Quero estar na rua
Poder olhar para a lua
Sentir tua pele nua
Ser completamente tua.

Quero estar no mar
Dividi-lo com teu olhar
E assim sonhar
Na certeza de te amar.

Quero subir a montanha
Numa nova façanha
De um corpo que assanha
O outro cheio de manha

Quero sentir teu abraço
Perder o meu compasso
Na delícia de um amasso
Presos no mesmo laço.

Rosinha Morais

25/08/09

sábado, 22 de agosto de 2009

Presença

Quando acordo,
Antes mesmo de abrir os olhos
É você quem eu vejo.
Quando me deito,
Mesmo depois de entrar no mundo dos sonhos
É você quem o povoa.
Você está na flor
Que desabrocha em meu jardim
Está no canto dos pássaros
No vôo perfeito do beija-flor
Você está no frescor
Da água que corre pelo rio
No calor do sol
Que aquece a terra
Você está nas gotas de chuva
Que caem feito lágrimas
Você está no luar
Que invade a noite escura
Inundando-a com seus raios prateados
Você está em meu corpo
Que estremece a lembrança de teu toque
No meu coração
Que se alegra, diante da lembrança do nosso amor
Você está em cada gesto de carinho,
Que a natureza expressa
No toque de minhas próprias mãos.
Você está no sabor de um favo de mel
Nos meus olhos que te buscam ansiosos.
Você está em tudo que sinto e vejo
Está em mim!

Rosinha Morais

08/2009

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Impulsividade

Gargalhada
Choro
Um vaso
Voando
Uma palavra
Um palavrão
Um tapa
Um pedido
De perdão.

Rosinha Morais.

19/08/09

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A rosa









Hoje ganhei uma linda rosa
De pétalas lisas e macias
Seus espinhos firmes e fortes
Como bravos guerreiros a defende-la
Espetou o meu dedo
O sangue escorreu em um filete
Tão vermelho quanto a rosa
Em minhas mãos
Éramos bem parecidas
Ela estava sozinha
Fora arrancado de seu mundo
E agora jazia bela
Em um solitário
Vendo o tempo passar
Morrendo lentamente.

Rosinha Morais

11/08/09

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Meu Erro




Meu erro foi acreditar
Que você era meu acerto
Foi sorrir da minha tristeza
Para esconder minhas lágrimas

Meu erro foi pensar
Que você era o meu sol
Foi deixar tua sombra
Encobrir a minha própria luz

Meu erro foi consentir
Que você fosse meu guia
Foi acompanhar cada passo teu
Enquanto meu caminho se desfazia

Meu erro foi deixar
Que você me encontrasse
Foi achar que eu estava segura
Quando na verdade, eu me perdia.

Rosinha Morais

10/09/09

Despertar




Acorde!
Veja o lindo amanhecer
Respire o ar fresco
Que o orvalho da noite renovou
Deixe que teus olhos reflitam as flores do jardim
E as borboletas que passeia entre elas.
Verás que a tristeza não é um estado
É apenas um momento
E que não vale a pena permanecer nele.
Sorria e o mundo te sorrirá.
Deixe que a música invada sua vida
Dance e cante tuas mágoas
Faça delas tua alegria
E todos a tua volta cantarão contigo.
Não espere receber mais do que pode oferecer
Mas ofereça mais do que espera receber.
Viva!


Rosinha Morais
29/06/2009

sábado, 8 de agosto de 2009

Pai

Pai,
Porque não estás comigo?
Partiste tão cedo
Eu mal acordara.
E agora,
O que eu faço sem ti?
Quem guiará os meus passos?
Quem irá segurar a minha mão
Quando eu tropeçar?
Quem me ensinará
A desviar das pedras em meu caminho?
Pai,
Quero gritar.
Exigir a tua volta.
Mostrar-te a minha necessidade de ti.
Odiar-te pela tua ausência,
Por deixar-me sozinha.
Quero fazer birra.
Bater o pé.
Chorar.
Mas justo nesses momentos,
Minhas mãos se juntam
E meus lábios se movem em uma oração.
Pai,
Que Deus te abençoe
Acolha-te em seus braços
E jamais deixe que eu me esqueça de ti.

Rosinha Morais

08/08/09

Derrame sobre mim





Derrame sobre mim
O suor do teu labor
Derrame sobre mim
As lágrimas da tua dor
Derrame sobre mim
As angústias do teu terror
Derrame sobre mim
O sorriso do teu humor
Derrame sobre mim
As glórias do teu louvor
Derrame sobre mim
As chamas do teu calor
Derrame sobre mim
O sabor do teu amor

Rosinha Morais

08/08/09

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Renasci



Renasci em teu sorriso
Nos recantos do paraíso
Renasci em teus braços
Na delícia de um abraço
Renasci em teu beijo
Recheado de desejo
Renasci em teu corpo
Ansioso de conforto
Renasci em tuas lágrimas
Renasci em tua voz
Renasci em teu olhar
Por favor,
Não me deixe morrer!

Rosinha Morais

06/08/09

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sentimentos




O rancor corrói
A mágoa fere
O ódio reinvidica,
Cria, estimula
É passível de perdão
Só odeia
Quem ama
Amor e ódio
Uma mesma moeda
Duas faces
Ligadas entre si
Fazendo uma trilogia com o perdão
Amor, ódio, perdão...
Amor , perdão...
Perdão amor.

Rosinha...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Conto - Aniela

I



Era uma típica manhã de outono. O dia amanhecera frio, o sol, preguiçosamente se escondia atrás de pesadas nuvens, deixando o céu acinzentado.
Toda a aldeia ainda dormia, o silêncio era total, chegando a ser assustador, até mesmo os animais temiam se mexer. Mas para Aniela, aquele era um dia muito especial. Ela mal conseguira dormir durante a noite, antevendo tudo o que aconteceria no dia seguinte, quando a escuridão foi substituída pelo tênue cinza do alvorecer, ela começou a se virar de um lado para o outro sobre a palha que cobria o chão, onde dormia ao lado da mãe.

Aniela era uma jovem bonita, com longos cabelos vermelhos que lhe caiam como ondas sobre os ombros. A pele clara, pincelada por pequenas sardas que lhe proporcionava um ar bem infantil. Tinha olhos grandes e brilhantes, de um verde intenso, contrastando com o vermelho dos cabelos. Os lábios carnudos, sempre com um sorriso, revelando dentes alvos e alinhados. Ela era alta, os seios redondos, bem avantajados, cintura fina, quadris estreitos, pernas grossa. Despertando o interesse dos homens que deixava de vê-la como uma criança e passava a vê-la como mulher.
Assim que escutou algum movimento, Aniela se levantou, acordando sua mãe. Anna era uma mulher pequena, de pele bronzeada e cabelos negros, tão rebeldes quanto os da filha, os olhos dela era dourados e perspicazes e apesar da vida simples que levava era uma mulher inteligente e educada o que levantava suspeitas sobre a vida dela e quem tinha sido no passado. Anna ensinara sua filha a ler e escrever e a educara como uma dama apesar de viverem modestamente. Após acordar ela preparou o desjejum, pão de grãos com cerveja e serviu para ela e a filha, a quem prometera levar para conhecer a cidade. Até então Aniela jamais saíra da aldeia. Terminado o desjejum e a despeito do frio que ainda fazia, apesar de os primeiros raios de sol começar a surgir entre as nuvens, Aniela pegou o vestido, especialmente tecido pela mãe e dirigiu-se à praia onde as mulheres costumavam se banhar. A água gelada arrepiou sua pele, mas ela não desistiu, esfregou freneticamente até se sentir aquecida e limpa, lavou caprichosamente os cabelos e saiu do rio, se secando e vestindo-se. Caminhou de volta para a sua casa. No caminho imaginava como seria sua vida dali para frente, era seu aniversário de 15 anos e já não era uma menina, queria muito experimentar a vida como uma mulher, mas ao mesmo, sentia medo de tudo. Resolveu que estava na hora de saber mais sobre seu pai e a família de sua mãe, Anna sempre mudava de assunto quando ela lhe perguntava a respeito, mas agora, que estava com 15 anos, ela tinha o direito de saber e sua mãe não podia lhe negar esse direito.
Ao chegar em casa, Anna já estava pronta, teriam que andar meio dia para cobrir a distância entre a aldeia e a cidade do condado. Anna entregou para Aniela uma bota de feltro que mantivera guardada desde que chegara a Aldeia e calçou tamancos de madeira, a jovem protestou, mas a mãe olhou de maneira firme, como sempre fazia quando algo não lhe agradava, encerrando assim qualquer possibilidade de reclamação por parte da filha. Pegou algumas frutas e colocou em um saco, que amarrou à cintura. As duas saíram. Cumprimentaram algumas pessoas e logo tomaram a estrada.
Já estavam andando a cerca de três horas quando Anna decidiu que deveriam parar para descansar, adentraram um pouco a floresta e logo encontraram uma clareira com um pequeno riacho, onde tomaram água e sentaram, cada uma comendo uma maçã. Aniela decidiu que aquele era o momento ideal para fazer as perguntas que fervilhavam em sua cabeça. Ficou olhando para a mãe até que essa se sentiu incomodada e lhe falou carinhosamente:

- O que está te perturbando, Anny?

Aniela estava nervosa e engoliu em seco, mas se não falasse agora, talvez perdesse a coragem e nunca conseguisse descobrir sobre o passado da mãe e dela própria. Então, numa voz baixa, tentando aparentar calma, perguntou:

-Minha mãe, hoje eu completo 15 anos, deixo de ser uma menina e me torno uma mulher, nada sei sobre o vosso passado ou sobre meu pai. A senhora me ensinou tudo que eu sei e é muito diferente das outras mulheres da Aldeia. Gostaria que me falasse sobre o seu passado, sobre o meu pai e o porque está me levando à cidade hoje.

Anna respirou fundo e segurou as mãos da filha entre as dela. Olhou nos olhos de Aniela e falou numa voz tranqüila, porém carregada de rancor:

-Minha filha, sabe que não posso mais te negar o direito de saber sobre o seu passado, tenha um pouco mais de paciência, assim que chegarmos a cidade tudo lhe será revelado.
Peço que me perdoe minha filha, e que um dia possa entender que tudo o que fiz foi por amor.

Soltou a mão de Aniela e beijou sua face. Em seguida se levantou e preparou para prosseguir a viagem. Aniela agora estava ainda mais curiosa a respeito de seu passado, nunca imaginou que sua mãe tivesse um dia amado alguém, era uma pessoa triste, às vezes até amarga, jamais confiava em ninguém. Mas ali estava ela, lhe dizendo que tudo o que fizera foi por amor, e ainda por cima lhe pedindo perdão. Aniela estava confusa, mas não deixou transparecer. Levantou-se e acompanhou a mãe.
As duas voltaram para a estrada e continuou sua viagem. Praticamente não conversavam, encontraram algumas pessoas na estrada, mas não pararam para conversar, era uma época difícil, depois de dois anos de colheita ruim, e os proscritos atacavam qualquer pessoa que lhes parecesse indefesa.

A primeira visão de Aniela foi de uma grande muralha, de dentro da qual um som abafado de várias vozes era ouvido. Sua mãe pagou ao vigia e as duas atravessaram a ponte. As casas eram em sua maioria iguais as da aldeia, mas não eram dispersas como lá, era um amontoado de casas e pessoas, num vai e vem constante. O cheiro também era diferente, era como se houvesse algo podre, que feriu as narinas da jovem. Conforme foram adentrando mais a cidade, Aniela pode ver que as casas iam ficando maiores, e muitas eram feitas de pedra, de dois andares, com comércio embaixo. As roupas eram coloridas e não as túnicas de linho cru que o pessoal da aldeia costumava usar. Passaram pelo mercado, onde o cheiro de pão, bacon, vinho, cerveja e outras coisas se misturavam, ela sentiu a boca se encher de água. Pessoas ofereciam os mais variados tipos de materiais, tecidos, pentes, panelas, facas, cordas, etc. Aniela parou ao ver uma mulher dançando, com os seios à mostra, sua mãe lhe puxou e as duas continuaram caminhando até o Adro da igreja. Ao ver a igreja, ela abriu a boca algumas vezes e fechou-a em seguida, sem conseguir proferir nenhuma palavra, estava emocionada com tamanha beleza. Sua mãe parou e esperou que a filha tomasse fôlego, sorrio para ela, um sorriso nervoso. Seguiram até a cozinha e pediu para falar com o Bispo Andrew. Ao vê-la o monge que cuidava da cozinha, um homem de cerca de 50 anos, cabelos grisalhos, ficou branco como cera, parecendo que ia desmaiar. Olhou para Anna e sua voz saiu esganiçada:

-V-você...Está viva...

Anna respondeu secamente:

-Sim Padre Carlos, não sou nenhum fantasma que voltou do inferno para vos assombrar.

Aniela não conseguiu entender o porque daquela reação do monge e da sua mãe.
O que eles escondiam. Que poder sua pobre mãe poderia ter para que ele ficasse daquela forma, ela podia sentir que sob o hábito o monge tremia. E ficou claro quando ele ergueu a tampa da panela e essa caiu no chão de terra batida com um estrondo. Ele ofereceu para as duas um pedaço de pau e duas canecas de cerveja. Elas se sentaram e comeram em silêncio, cada uma envolvida em seus próprios pensamentos. O Padre Carlos observava as duas, ainda trêmulo e com a face branca, mexendo as mãos nervosamente.


II-


Aniela quase não conseguia comer de tanta ansiedade, sua cabeça fervilhava, imaginando o que poderia acontecer, qual revelação sua mãe lhe faria. Estava tomando um gole de cerveja quando um jovem monge adentrou a cozinha e anunciou que o Bispo Andrew as aguardava na biblioteca.
Anna se levantou, mas o Padre Carlos se colocou em sua frente e numa voz suplicante lhe pediu:

-Por favor, não vá. Não traga o passado de volta.

Discretamente aponta para Aniela.

-Ele não deve saber, isso vai arruinar toda a carreira dele, tudo pelo que ele lutou. Vamos falar com o conde e eu peço para que ele seja condescendente para com você...

O homem parecia desesperado, quando Anna o encarou ele parecia ter envelhecido dez anos naquelas poucas horas em que estivera ali. Ela olhou para ele com desprezo, e falou pausadamente como se saboreasse as palavras:

-O conde fez a escolha dele há mais de 15 anos, assim como o você e todos os outros. Agora chegou a minha vez. Saia da minha frente!

Ela ergueu a cabeça e passou por ele, arrastando Aniela atrás de si, caminhava como uma rainha e falara da mesma forma, às vezes, ela falava assim, como se estivesse acostumada a dar ordens.
Seguiu o jovem monge até a biblioteca. Ele pediu para que esperassem, bateu na porta e entrou, logo em seguida pediu para que elas entrassem, o que fizeram. Aniela nunca havia entrado em uma biblioteca e seus olhos brilharam quando viu todos aqueles livros, a sua mãe havia lhe dado um pequeno livro quando ainda era pequena, e ela o guardava como um tesouro. Agora ela estava diante de centenas de livros, teve ímpeto de correr os dedos por eles, curiosa em saber que histórias continham. Seus olhos circulavam pela biblioteca quando seu olhar parou em um homem, alto, cabelos vermelhos, olhos verdes, que estava de pé, ao lado da janela, o sol entrando pelos vidros dessa, iluminava os cabelos dele. Andrew parecia paralisado olhando para a porta, fazendo com que o olhar de Aniela se dirigisse para lá. Então ela viu sua mãe, também parada, pálida e com lágrimas nos olhos, nunca vira sua mãe chorar e sentiu medo. Voltou os olhos para o Bispo e ele continuava na mesma posição, pareceu ver lágrimas nos olhos dele. O livro que ele tinha na mão foi escorregando e caiu, quando a voz de Anna finalmente saiu, baixa e trêmula:

-Andy...

Os olhos dela brilhavam de uma maneira diferente.
Ele parecia ter perdido a voz, então deu alguns passos, parando indeciso, olhando de Aniela para Anna, como se estivesse perdido, como se não soubesse que decisão deveria tomar. Deu mais alguns passos, parando em frente à Anna, que abaixara a cabeça, sem conseguir evitar as lágrimas, ele tocou delicadamente em seu queixo erguendo-o até que seus olhos se encontraram, falou emocionado:

-Oh meu Deus, o que fizeram com você?

Então num gesto inesperado, abraçou-a e chorou junto com ela. Aniela assistia a tudo, sem entender o que aquilo tudo significava. Eles ficaram um longo tempo assim, unido pelo abraço e pelas lágrimas. Até lembrarem-se que não estavam sozinhos.
Ele sorri e perguntou a Anna:

-E essa bela jovem quem é?

Ela o olhou, tentou falar e só conseguiu emitir um soluço. Aniela se adiantou ele estendeu a mão para que ela a beijasse, mas ela não o fez, sua mãe não era muito religiosa e não lhe ensinara como deveria se portar diante do bispo apertou a mão dele e disse:

-Sou Aniela, filha de Anna!

Sentiu a mão dele tremer junto a sua e então lhe perguntou:

-Qual a sua idade, Aniela?

-Hoje completo 15 anos!

Respondeu-lhe a garota, então sentiu a mão dele tremer e escorregar, ele virou-se para Anna, o rosto cheio de emoção. Ela ainda chorava e fez um gesto com a cabeça:

-Sim, Andy, é a nossa filha! O fruto do nosso amor. A filha que desejamos e para a qual fizemos tantos planos.

Anna chorava e Andrew parecia que a qualquer minuto ia desmaiar. Aniela nada conseguia falar, também chorava. Ali estava o homem que ela tanto desejava conhecer, queria correr e abraça-lo, perguntar porque ele nunca fora visitá-las, porque deixara que ela e sua mãe passassem por tanta dificuldade enquanto ele vivia tão bem, se era por causa da religião, então porque não as mantivera escondido. Eram tantas as perguntas que ela sentiu uma leve tontura. O primeiro a acordar daquele torpor foi Andrew. Convidou-as a se sentar e serviu água para todos. O silêncio dominava toda a sala, até que foi quebrado pelo bispo.

-Minha filha, minha filha...


Os olhos de Andrew brilhavam, molhado pelas lágrimas, que ele segurava heroicamente, enquanto observava as duas mulheres. A voz de Aniela ressoou como um sussurro que se espalhou pela biblioteca, enquanto seus olhos encararam o Bispo:

-Por quê?

Ele suspirou, viu desprezo nos olhos da filha, e pode imaginar o que se passava pela cabeça dela. Respondeu ternamente:

-Eu não sabia, minha filha. Eu não sabia. Perdoa-me.

-Não quero pedido de perdão, quero apenas que me explique.
Porque nos abandonou, porque deixou que vivêssemos tanto tempo sozinhas, porque não nos procurou nenhuma vez. Não se importou se passávamos frio ou fome?

Aniela estava ressequida de respostas, ansiosa por saber o que fizera seu pai tê-la abandonado. Ela podia sentir que ele amava a sua mãe, pelo jeito como a olhava. E o mesmo se aplicava a Anna, os dois não se olhavam com ódio, mas com um amor que era evidente em seus olhares.
Andrew se levantou, foi até a janela e olhou ao longe, onde o muro do cemitério começava, respirou fundo e voltou a sentar-se.
Numa voz calma, porém carregada de tristeza, ele começou a falar:

-Eu amo a sua mãe e amo você, oh Deus como eu amo vocês. Não passou nenhum dia em que eu não pensasse em vocês. Mas estás errada minha filha, eu as visitava sempre que podia.

-Como assim, o senhor nunca nos visitou, não acha que eu saberia se isso tivesse acontecido?

Anna que até aquele momento manteve-se em silêncio, falou com a filha:

-Ele não está mentindo, ele nos visitou, ou acreditava que nos visitava. Eu não sabia, não sabia até o retorno dele. Se tiver alguém a quem você deve perdoar é a mim, Anny.

Aniela não entendia o que sua mãe estava falando, abriu a boca para falar, quando percebeu seu olhar. Voltou a fechar a boca e olhou para Andrew, que voltou a falar ternamente com ela, que pode perceber uma ponta de amargura em sua voz:

-Meu erro foi amar demais, minha filha. Amar demais e ser ingênuo. Eu amei com toda a minha força, e fui afoito, eu e sua mãe nos entregamos um ao outro sem pensar nas conseqüências. Eu era um monge recém ordenado, meu tio, o conde Willian, havia conseguido com que eu fosse transferido para esse condado, a pedido de minha mãe, sua irmã. Quando cheguei aqui, conheci sua mãe. Ela era a mulher mais linda de toda a Inglaterra, eu me apaixonei no momento em que nossos olhares se cruzaram, e senti medo. Um medo terrível.
Eu era um monge, havia feito o voto do celibato. Sua mãe além de minha prima estava prometida ao Robert, um jovem cavaleiro, filho do conde Tomás, um dos homens mais poderosos do reino, grande aliado do Rei e amigo do Conde Willian.
Tentei esconder meus sentimentos, suprimi-los de todas as formas. Mas sua mãe também me amava e ela não era tão devota quanto eu. Acabamos vencidos pelo nosso amor e pelo desejo de nossos corpos. Nós entregamos um ao outro. Eu vivia um grande dilema, entre o amor de minha vida e minha devoção a Deus. E então descobrimos. Anna estava grávida, nosso erro não tinha mais volta e eu decidi que nos casaríamos. Precisava resolver tudo para que pudéssemos nos casar. Fomos falar com o tio Willian, ele ficou possesso, mandou chamar o Bispo. Houve grandes discussões. Resolveram nos afastar um do outro até que estivesse tudo resolvido. Enquanto isso, os meses iam passando. Eu fui mandado para a corte, para resolver diretamente com o Arcebispo e com o Rei. A Anna foi enviada para uma aldeia, para que ninguém soubesse da gravidez antes de tudo se resolver. Na corte a decisão era sempre adiada. Um dia, chegou um mensageiro do tio Willian, ele trazia a pior notícia que eu poderia esperar.

Nesse momento o rosto de Andrew estava lavado pelas lágrimas, Aniela podia ver a dor expressa em seu rosto. Sentiu um aperto no coração, aquela história era quase inacreditável, e ela queria saber o final, mas esperou pacientemente que ele se recuperasse da emoção e voltasse a falar.
Andrew soltou um grande suspiro, esforçando-se para continuar:

-Meu tio mandava avisar, que Anna dera a luz, mas que houve grandes complicações no parto e que ela não tinha resistido e morrera. A criança lutou bravamente, por uma semana, mas também não resistiu e também estava morta.
Meu mundo acabou naquele minuto, eu abandonei tudo e voltei para cá, ajoelhei-me diante do túmulo de vocês duas e ali passei três dias, até que fui carregado de volta ao castelo. Não conseguia comer, não conseguia dormir. Queria morrer, me unir a vocês. O tempo foi passando. Aos poucos eu fui me recuperando, fui me dedicando cada vez mais à igreja. Fui mandado de volta para a corte, e lá fiquei, mas sempre que podia eu voltava aqui, e passava meu tempo junto ao túmulo de vocês. Fazia questão que soubessem tudo o que estava acontecendo comigo. Minha vida foi ficando mais e mais corrida. Minha dedicação ia ganhando conhecimento, e quando o Bispo Peter morreu, eu fui eleito bispo e mandado de volta para cá.

Terminou sua história e sentou-se, ansioso para ouvir a reação de Aniela. Ela permanecia sentada, em silêncio, o rosto vermelho, os olhos cheios de lágrimas, os lábios crispados. Sentia pena do seu pai, sentia ódio de tudo o que fizeram com eles e com ela. Até agora ela só tinha a mãe. Viviam modestamente, mas felizes. Agora descobria que tinha um pai, que tinha avós. Mas junto descobriu como o mundo era cruel. Nesse instante uma centelha se acendeu em seu coração, uma centelha perigosa, um desejo de vingança nascia.

Mais uma vez o silêncio dominou o ambiente onde os três estavam, cada um envolvido em seus próprios pensamentos. Aniela observou Andrew e logo pôde perceber a semelhança entre eles dois. Ela herdara os olhos e os cabelos do pai, e era alta como ele. Ficou imaginando o quanto eles poderiam ter sido felizes. Ela queria saber mais, queria conhecer cada detalhe daquela história, conhecer todos os seus personagens. Então o conde William era seu avô, ela já ouvira histórias terríveis sobre ele e o séqüito dele, pessoas tremiam à simples menção do nome dele. Muitos se escondiam quando ele vistoriava as Aldeias, sua mãe sempre dava um jeito delas estarem fora cada vez que ouvia que o conde estaria perto da Aldeia onde moravam.
Olhou para a mãe, Anna estava com uma expressão serena, olhando para Andrew, que retribuía o seu olhar. Aniela nunca tinha visto a mãe assim, aquele realmente estava sendo um dia e tanto. Sentimentos que ela jamais pensou que sua mãe pudesse ter afloravam a um simples olhar. Mas algo a perturbava e ela resolveu falar:

-Mãe, porque a senhora não procurou o Andrew?
Porque não contou tudo a ele, porque se escondeu e deixou que meu avô manipulasse todos dessa maneira?

Apesar da maneira carinhosa como falou com sua mãe, o olhar de Aniela era acusador e Anna conhecia muito bem a filha para perceber isso.
Será que ela tinha sido covarde demais?
Será que deveria ter agido de maneira diferente?
Antes de Anna responder, Andrew falou a Aniela:

-Minha filha, sua mãe tinha a sua idade, era tão jovem. Se houve algum erro nisso tudo, esse erro foi meu. Se tiver que perdoar alguém, perdoe a mim.

Anna silenciou Andrew com um gesto, olhou para a filha e sorrio, um sorriso triste, mas cheio de carinho.

-Anny, quando seu pai partiu, junto ao bispo, meu pai manteve as coisas calmas, como se tudo fosse se resolver. Sempre que eu perguntava porque o Andrew demorava tanto a voltar ele me dizia que essas coisas eram assim mesmo, que era difícil de ser decidida e que eu deveria ter calma. Ele me mantinha trancada dentro do castelo, dizia que era melhor que ninguém soubesse sobre a gravidez até que Andrew voltasse e estivesse tudo resolvido. Eu estava feliz, e fazia planos para quando ele voltasse. Quando minha barriga começo a ficar cada vez maior. Meu pai me enviou para uma das aldeias, para a casa de uma senhora, mãe do seu mais fiel e terrível cavaleiro. Então um dia ele chegou na aldeia, junto com o Bispo. Meu pai estava consternado, e o bispo nervoso, ele disse que Andrew resolveu seguir na religião, disse que seu pai havia caído em si e que tudo não tinha passado de um impulso. Ele não voltaria. Naquele instante, era como se o mundo tivesse desabado sobre a minha cabeça. Como podia ser verdade que o Andrew não gostava mais de mim. Gritei que era mentira, que eles eram uns tolos e queriam simplesmente me enganar. Então o bispo tirou uma carta, e me entregou. Eu desenrolei o pergaminho e era a letra do Andrew. Eu li aquilo e tudo o que quis foi morrer, como ele podia não me amar mais?
Ele sabia que eu estava esperando um filho dele.

Anna parou para secar as lágrimas que lhe molhavam a face, respirou fundo e tomou um pouco da água.

-Meu pai, ele foi tão bom, disse que ia tentar falar com o Andrew, que não ia deixar que um moleque metido a monge fizesse sua filhinha sofrer tanto. Eu me atirei nos braços dele e chorei, chorei como uma criança desesperada que precisava do pai. Ele me consolou e depois partiu com a promessa que iria procurar o Andrew. Meu pai demorou a voltar e eu dei à luz a você, minha filha. Meu pai foi chamado, quando chegou ele me abraçou e disse que ia ficar tudo bem, em nenhum momento ele olhou a criança ao meu lado. Eu perguntei se o Andrew viria e ele disse que não conseguira faze-lo mudar de idéia, mas que já tinha resolvido tudo. O meu bebê seria doado a um casal e eu me casaria com meu noivo. O meu bebê seria doado...Aquilo ficou ressoando em minha cabeça. Eu não queria ser de ninguém odiava os homens, odiava o seu pai por ter nos abandonado e odiava meu pai por sugerir aquilo, mas estava fraca demais para discutir, chorei por dois dias inteiros e eles não me deixaram mais vê-la. Foi então que eu descobrir que não poderia voltar para o condado, não poderia viver uma vida infeliz e não suportava ficar longe de você. Numa noite, enquanto todos dormiam, eu a roubei e fugi. Embrenhei-me na floresta, com a roupa do corpo, você era tão pequenina, eu não sabia o que fazer. Mas preferia que morrêssemos juntas a abandona-la. Andei por dois dias, e já não tinha mais força quando fui encontrada por uma velha senhora, que nos levou para a cabana dela, lá ela nos alimentou e agasalhou e lá ficamos por quatro anos. Aprendi a viver na floresta, a conhecer as plantas e utiliza-las e aprendi a cuidar de você, nunca mais quis ouvir qualquer notícia do condado, do conde William ou do Andrew, embora sonhasse com ele todas as noites e amaldiçoasse-o por ter nos abandonado.
Depois que minha velha amiga e protetora morreu, eu fui para a aldeia, e lá vivemos até hoje, nunca mais soube nada do Andrew, até que descobri que ele tinha sido eleito bispo do condado e então descobri que ele viera para ficar perto do túmulo de uma mulher e um bebê que havia morrido quando ele era um simples monge e que todos falavam que aquela mulher, a filha do conde concebera uma criança e segundo os boatos e as atitudes do bispo era a filha dele.
Resolvi vir e esclarecer tudo, por você, minha filha.

Aniela estava pasma, aquilo tudo era sórdido demais, como alguém era capaz de tamanha maldade?
Levantou-se e abraçou a mãe. E chorou. Chorou a dor de sua mãe. Chorou a dor do seu pai. E chorou sua própria dor.
As duas permaneceram abraçadas por muito tempo, Andrew as contemplava com lágrimas nos olhos. Quando, enfim, as duas se separaram. Ele as olhou e pediu perdão. Mas não havia o que perdoar, ele tinha sido tão enganado quanto a Anna. E era tarde demais para concertar as coisas. Agora ele era um Bispo e vinha fazendo um trabalho muito bom, era elogiado por todos, era um homem de Deus que vivia segundo os seus preceitos. Anna se tornara uma mulher independente, trabalhou e sustentou a filha, ensinou-a a ser uma dama em meio à vida simples em que vivia. Aniela estava na idade em que vários pretendentes batiam à porta de Anna. Não. Não havia mais o que eles pudessem fazer.
Mas para Aniela, aquele era apenas o começo. Todos pagariam pelo que fizeram. Silenciosamente ela fez essa promessa.




Em breve a continuação...

Eu quero apenas viver




Eu quero apenas viver
Lembrar que te amo
E seguir em frente
Mas descobri
Que não consigo viver
Com a lembrança desse amor
Esse amor
É intensamente real
E minha única lembrança
É que não tenho você.
Lentamente
Começo a morrer.


Rosinha Morais...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Acasos



Se acaso
O acaso
Nos uniu
Nosso caso
Não é mais
Um mero caso.
Por acaso
O destino,
De nós, riu.
Hoje,
Contigo
Eu me caso
(Ah) caso!
E não é
Um mero acaso!

29/06/2009

domingo, 2 de agosto de 2009

Cumplicidade

Embora eu busque em ti minha felicidade
Você me mostra que ela está apenas em mim
Por mais que eu deseje ver em teus lábios um sorriso
Você me faz perceber que ele só existirá através do meu
Cada pedaço de mim te deseja
Mas teu desejo não é me ver em pedaços
As minhas fantasias e sonhos não te satisfazem
Porque para ti elas tem que ser realidade
E quando reclamo de minha realidade
Me dizes que sou eu a responsável
Me mostras o quanto eu preciso me ver
Para que posso enxergar além de mim
Porque me amas com esse poder tão grande
É que me mostras meus erros
Para que eu pare de ver minha vida em teus olhos
E a enxergue em mim
Assim meu amor será tão puro quanto o teu
Tão forte que nenhuma corrente será capaz de aprisioná-lo!
E que livre dos meus próprios medos e anseios
Seja vivido em dualidade
Não mais dois amores individuais
Mas um grande amor de cumplicidade.

Rosinha Morais

27.04.2009

Brincando de poetizar





Gostar de poesia não significa ser poeta
E poderia o poeta nunca poetizar?
Há tanta poesia em um olhar
Que seria o dono desse um poeta?
As flores que desabrocham e perfuma o ar
Foi uma poesia composta pelo Criador?
Ou seria o jardineiro o seu compositor?
então seria também poeta quem a admira?
E o amanete que a rouba para a sua amada presentear
Que versos mais fortes poderia conter esse amor
Seria necessário a ele, rimar?
O que é ser poeta senão ser amante e se doar?
Sejam palavras, canções ou o simples ressoar
De um coração que ama e não teme se entregar?
Os braços de uma mãe que acolhe o filho após uma travessura
O olhar que repreende tão cheio de ternura
Não é em sua simplicidade a mais simples poesia?
E que se diz do amor, tão despretencioso,
Que faz o amigo chorar a dor do outro?
Que poesia mais singela pode existir
Que o rosto de uma criança a sorrir?
Como não ver poesia no rubor de uma face apaixonada
Ou nos olhos que choram?
Os raios de sol que penetram o inverno aquecendo a pele
Não é a poesia se fazendo sentir?
E a água que corre entre os seichos do riacho
Não é a sua canção uma expressão poética?
A poesia está na vida, em cada partícula.
Nos fazendo, todos, poetas!