terça-feira, 24 de fevereiro de 2015



Esperança

O corpo petrificado
Ante a pureza do amor
Já não se importa
Com o resto à sua volta
Entrega-se ao instinto primitivo
De proteção e paz
Enquanto espera o romper
De uma nova aurora
De onde surgirá
Seu bem mais precioso



Rosinha Morais



Trilhas

O sussurro
E o grito
O cheiro
Impregnado na pele
Insinuado no corpo
A impressão dos dedos
No olhar
O fogo não mais contido
Nos lábios
A suavidade
E a ardência do beijo
A respiração
Tantas vezes presa
Solta, ofega
O bailado
Timidamente iniciado
Ganha passos seguros
O medo
Embolsado
Aguarda escondido
Ofuscado pela coragem
Que brota dos sentidos
Sentidos
Desejados
São explorados
Em tatos e cheiros
Em visão e audição
E no paladar
Que desliza
Criando trilhas
Para a memória.

Rosinha Morais


sábado, 21 de fevereiro de 2015



Devaneios

Em seus devaneios
A menina sonhava com astros
Se fantasiava de pirata
Visitava ilhas desertas
Dançava um tango ao som de Carlos Gardel
Discutia cinema e literatura
Planejava presentes e futuros
Sorria seus planos
E um rubor lhe tomava a face
Em seus devaneios
A menina andava descalça sobre a areia
Ao som do Sacha, rodopiava
Voando a bordo do vento
Brincava de esconde-esconde
Deitava-se à sombra de uma árvore
Adormecia feliz
Sonhava devaneios
E em seus devaneios
Ela só queria ser o epílogo
Das mil e uma noites

Rosinha Morais



quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015



De Carnevalli

Deixo
Atrás de mim
Um rastro
Uma trilha para tantos passos
Não rastejo
Sigo em frente
Cabeça erguida
Armado com palavras
Vivo a vida
E viro a vida
Do avesso
De onde saio
Ileso
E junto
Com outros e tantos
Que foi igual
Que é igual
Marginal?
Não fui nem sou
Mas também não me importa ser doutor
E se o for
Receitarei palavras
Recitarei Palavras
Defenderei palavras
Minha arma
Palavras
Solta, livres, avulsas.


Rosinha Morais


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O tom e o tempo



Eu tive tempo, te vi no tempo
Do tempo que em mim parou
Sem horas, fui senhora
Dona do tempo e de ti
Do teu olhar tão perto
Tão dentro do meu
Que por instantes você era eu
Rapidamente acendi uma chama
Naquele olhar retido
Sob o pretexto bandido
De roubá-lo pra mim
Tua voz flutuou no espaço
E a multidão não existia
Eram dois corpos em harmonia
Ou um que pedia
Para o outro retê-lo
No aconchego do tempo
Que em instantes se desfazia.



Rosinha Morais

domingo, 8 de fevereiro de 2015




Resposta


Dizes que não tenho cara de santa
Tens razão baby
Não tenho cara de santa
Não tenho jeito de santa
Não quero nem sou santa
Sou filha da Deusa
Da Mãe Natureza
A minha beleza é toda profana
Sim profana, não promíscua
Prefiro ser profana
A ser (pro) missa, (pro)culto.
Meu pecado difere do teu
O prazer me foi ensinado
Está na raiz do nosso ser
Brota da terra de fertilidade
Enquanto te preocupas
Com tuas virtudes
Com um reino prometido
Eu me preocupo em ser feliz
Em viver intensamente
Em plantar e colher
Nesse plano, a melhor semente
Entrego-me ao Gamo Rei
De corpo e alma
Desnudo-me de preconceitos
Sou mulher, rainha, fada
Sou tudo o que eu quiser


Rosinha Morais



sábado, 7 de fevereiro de 2015




Sol e Lua

Todo esse encanto
A fantasia construída
Toda essa sede
A fome longamente sentida
Todo esse espaço
O vazio entre dois mundos
Toda essa rotina
O amar e ser amado em palavras
Toda essa distância
A chama acesa da esperança
Todo esse sentimento
Citado e descrito em astros
Se desmancha e solidifica
E cria novas sentenças
Que em promessas se pronuncia.

Rosinha Morais